1
O amor não se vive no passado, nem no
futuro. O amor se vive somente no presente.
2
Posso não ter vivido todos os amores que
quis, mas ele sempre me encontrou disponível. Assim esperei que viesses, como
uma surpresa.
3
Choro por ti. Por teu arrependimento. Eu
te tornei sincero. Hoje sei que me amas menos, porém, sou a obra-prima do teu
amor.
4
Apaixonei-me por ti quando que te vi.
Resplandecias como o sol. Tu me olhavas como se eu estivesse nua.
5
Vias através de mim e minha alma vibrava
ao te ver. Pousaste as mãos em meu rosto, e me disseste palavras de amor.
6
Teu hálito me envolvia como uma névoa, e
me aspergia com tuas gotas de suor. Teu olho encontrou o meu e me amaste, a luz
a atravessar a tua íris. Teus beijos desmancharam meus lábios dissolvidos em
tua saliva.
7
Não conheci felicidade maior do que em
teus braços, ao me sentir escolhida e amada.
8
És meu homem e em teu cavalo, cavalgas
até o horizonte. Meus olhos te perdem na distância, e espero que ressurjas pela
manhã. As brumas te envolvem e imantam, protegendo-o de todos os males.
9
Serei a imperatriz do efêmero,
permanentemente ao teu lado, a mulher que coroaste. Mas ao irmos ao ápice, caíamos
em degredo.
10
Em que tempo viemos nos encontrar? Que
tempo foi este que nos teceu por dentro como memória, tua casa, o lar que
construíste, durante tuas lutas? Que homem é este que se ergue acima de todos e
também me ama?
11
Tua penúria está na ausência de amor. Os
dias se sucedem como rios. Luzes brilham em teus olhos, as joias de tuas
vestes, a pompa de teu manto – esplendoroso rei dos franceses – nenhum dos Luízes
se cobriu com tamanha glória.
12
Amo-te como homem. Amo-te como amigo.
Amo-te como rei da minha vida. Tuas palavras se assentam em meu colo e me
beijam. Amo-te de noite e de dia, amo-te constantemente, à prova de tudo, como
sou, ao avesso do que fui.
13
Fizeste-me nova, a mulher de teus
sonhos, teu sono e teu despertar. Jurei-te fidelidade, não diante de Deus, mas
diante de ti. E Deus estava lá, e nos assistiu ascender ao trono.
14
Meu amor era o manto de teu leito.
Estive contigo por todo o tempo, desde o começo de tua ascensão, e caminhei
contigo todo o caminho.
15
Fui tua conselheira, a amante que te
esperava voltar. Mas a perfídia e a preguiça me tomaram, e errei ao me afastar
do teu amor. Que castigo ser esquecida por ti! Abandonada quando mais precisava
do teu amor. O que fazemos por não saber? Acreditei que nunca me deixarias. E
me deixaste.
9/05/2012
– 00h30
16
Vivo somente para te amar, vivi antes
sem conhecer o amor, e tu me ensinaste a amar. Tuas palavras eram pérolas. Teu
riso me alegrava noite e dia. Quando não te via, sofria de solidão. Vivo hoje
sem ti, minha vida passa sem ti, minha saudade é maior que o mar.
17
Querias fugir de mim, me perseguias, não
me acreditavas, me desprezavas, não me querias, me esquecias.
16/05/2012
– 1h45
18
Meu poema se constrói no esquecimento.
Reconstrói tua presença para ocultar tua ausência. Tudo fizeste por mim, eu que
me esqueci de mim para só pensar em ti. Tu eras minha sinceridade, meu
despertar a qualquer hora. As noites e os dias se sucedem, e posso ser quem
sou.
17/05/2012
– 23h
19
Vivi à espera do amor. O amor me
lisonjeava, mas não me tomava. Sacrifiquei-me por amor. O amor não me falava.
Disse o que quis do amor. O amor guardou silêncio. Meu silêncio não me bastou.
O amor me abandonou.
20
Nasci para ser maior. E só o fui ao teu
lado. Por ti, tornei-me quem eu era.
20/05/2012
– 00h20
21
Lutei contigo cada batalha e venci as
guerras que fizeste. O amor pelo teu povo não arrefeceu. Fui a dama de teus
sonhos, para onde elevavas teu olhar. Teu rosto mirava o infinito onde me
colocavas. E eu, tão pequena e fútil, nunca fui tão amada.
22
Reinaste sobre o deserto ao lado de teus
soldados. Os turbantes e véus de tua expedição ao Egito. Ouviste reis e sultões,
e com eles negociaste. Que mulher te compreendeu como eu?
23
Do alto das pirâmides, quarenta séculos
te contemplam. Minha paixão por ti não arrefece com tuas ausências.
24
Danço para ti à luz das fogueiras. Eu, a
odalisca de teus sonhos, a mulher envolta em sedas a te seduzir, turíbulos a
exalar nuvens de incenso. Sobre os tapetes de tua tenda, caminhei com os pés
descalços. Eu, a suave peregrina de Alexandria. Onde foste, eu estive. Onde
fores, eu estarei.
20/05/2012
– 22h14
25
Os segredos que guardei, eu nunca os
disse. Nem em minhas orações, antes de dormir. Meu sono me embala no leito. Os
lençóis me embalsamam ao teu lado. Digo-te os versos que ouço à noite, sussurrados
ao teu ouvido.
23/05/2012
– 1h20
26
Tive sonhos demasiados, uma vida
irrepreensível, impensável antes de me tornar quem fui.
27
Eu, rainha, antes julgada pela
assembleia, inocentada por ausência de provas, eu que me provei inatacável,
impune, improvável entre tantas probabilidades.
28
Nunca ouviste bater teu coração. Dizias
que era como se não o tivesses. Tinhas a disposição de um leão. Cavalgavas
longas distâncias sem nunca te fatigar.
26/05/2012
– 2h
29
Eu te disse para não ir à Rússia. Tua
soberba te arrastou à cidade de gelo. Depois o fogo a consumiu com o ardor do
inferno. Estavas no auge de teu poder. De mais não precisavas. Mas a guerra te corroía
as veias. E te arrastou aos pântanos da morte. Teus homens não voltaram. Só tu,
para enfrentares teu destino.
1/06/2012
– 9h02
30
Há muitas ideias sobre o amor e nunca
são pueris. Para mim, há o universo e o teu amor. Eu me chamo Maria Josefa Rosa
e, para ti, eu era tua flor e me chamaste Josefina. Eu me divido entre viver
para ti e para as outras pessoas. Contigo, nunca me senti sozinha, nunca fui
tão amada.
31
Se tivesses sido o primeiro filho e
nascido no lugar de teu irmão José, serias italiano e não francês. Mas quis o
destino que a Córsega fosse vendida à França por uma grande soma em dinheiro um
ano antes do teu nascimento, como o segundo rebento de Carlo e Letizia,
batizado com o mesmo nome do segundo filho de teu bisavô, Nabuloni.
32
Na queda da Bastilha tinhas dezenove
anos e onze meses menos um dia, pois nasceste em Ajazzio, em quinze de agosto
de 1769, mas logo ascendeste ao posto de comando por tua determinação e
estratégia, que te renderam rapidamente um lugar de destaque.
33
Por seres amigo de Robespierre, foste
preso após sua execução e por pouco escapaste da guilhotina, da mesma forma que
eu, viúva de um visconde guilhotinado, também escapei.
34
Quis o destino que nos encontrássemos e
juntos marcássemos nosso tempo. Somos Napoleão e Josefina.
35
O meu amor por ti não se desgasta. O teu
amor por mim se perpetua. Renasço a toda hora, pois sou a manifestação de tua
existência. Existo para que vivas. Vivo para que existas.
20/06/2012
– 2h35
36
Vivi o fausto, a glória e o prazer. A
vida me ensinou a desfrutá-la. Estive ao teu lado aonde foste, e me trouxeste o
óbolo do teu amor. Logo descobri que eu não era mais eu. Tu não eras mais meu.
37
Busquei no amor a plenitude, encontrei
espinhos. Busquei em tudo a fortuna. Encontrei a perdição. Entre as coisas mais
vãs, colhi os momentos de angústia, as valas de doçura, as incertezas, os
medos, as loucuras. Meu destino estava traçado, e eu somente tive de segui-lo.
38
Sou Josefina, mulher de Napoleão. A imperatriz
de toda a França. De todas as ilhas além. Das fronteiras, do pico das
montanhas. Das nuvens. Sou a imperatriz do vazio. Do coração dos franceses. Do sangue
que corre em suas veias. Dos olhos que se viram para olhar-te, como olho para
ti.
11/07/2012
– 20h30
39
Depois que partiste para tua guerra
inglória, vaguei pelos jardins à tua procura. Quiseste um filho, tiveste os que
Deus te deu, até um Rei de Roma. Mas descendência não se compra. Nem amor.
Vieste pedir meus conselhos, eu te aconselhei, mas não me ouviste. Foste surdo
para mim. Sem amor, o coração ensurdece.
40
Logo, meu dia chegou. Parti depois que
foste para Elba. Lá, no Mediterrâneo, não me ouvias mais. Em bailes e
ostentações do passado, viveste alguns dias de paz – mas a paz não é tua
companheira. E eu me fui, por não suportar mais estar sozinha. E disseste:
“Agora ela está em paz”.
41
Ouvi tuas palavras de aconchego. Ouvi
teus planos de fuga. Vi-te embarcar para a Europa e galgar novamente o poder.
Apeaste de teu cavalo, abriste os braços e o casaco para teus soldados, e
gritaste: “Aqui, matem vosso Imperador!” Mas eles não se contiveram, e
bradaram: “Viva o Imperador!” e juntos marcharam para Paris.
42
Teus inimigos te perseguiram. Teus
homens se foram. Viveste os melhores dias comigo. Agora restaram os escombros
de tuas vitórias insepultas. Vê, Napoleão, o que restou de tuas guerras. Só um
punhado de soldados fiéis, à tua espera. Tua esposa fugiu levando teu filho.
Ela, como eu, jamais te foi fiel, mas ela não te amava como eu.
43
Waterloo foi tua tumba. Ali
enterraste teus sonhos. Como soldado, foste impecável. Como general, um
assombro. Mas os erros se somam e, ao final, cobram-te um preço: descer do
Olimpo onde te colocaste. Quase sem nenhum ferimento em batalha, foste o mais
bravo de todos. Não temeste nada, nem ninguém. E todos temeram a ti.
44
E na ilha de Santa Helena, onde viveste teus
últimos anos, os dias foram longos, cheios de neblina, sempre a esperar que
viesse do horizonte a tua salvação. Contra quem guerreaste? Quem são hoje teus
inimigos? Todos os reis se reuniram em Viena e decretaram que o queriam morto,
mas ninguém se atreveu a julgá-lo. Curioso. E, como uma extrema-unção, meu nome
foi a terceira das últimas palavras que proferiste: “A França. O Exército.
Josefina.”
31/07/2012
– 1h57
45
Encerra-se aqui um longo tempo. Minha
vida espelhou a tua. Vivemos como um do outro e nada fez diferença. Não tive
ciúmes, mas te protegi. Provoquei ciúmes, eu sei. Quanto tempo gastamos com
bobagens. Mas o que mais amei em ti, só eu via. De todos os homens, foste o
único capaz de me amar. E eu a única que te amou.
8/08/2012
– 21h29
Josefina de Beauharnais (nascida Marie
Josèphe Rose Tascher de la Pagerie), nasceu
na Martinica, em 23 de junho de 1763 e morreu na Île-de-France, em 29 de maio
de 1814.
Napoleão morreu na Ilha de Santa Helena, em 5 de
maio de 1821. Em 15 de dezembro de 1840, foi levado para a França, e enterrado,
no Invalides, à margem esquerda do Sena, em 1861, onde desejava repousar, junto
“ao povo que tanto amou”.